Wellington Fagundes*
Em tempos de pandemia e isolamento social, em que toda a agenda cultural foi cancelada e muitos artistas estão impedidos de trabalhar, que tal pensar em aproveitar esse tempo para colocar a leitura em dia, ver um bom filme ou visitar um museu ou exposições virtuais? Hoje, pelo menos um terço da Humanidade está em casa e com museus, cinemas e shows cancelados. Nesse momento, a internet pode ser uma grande ferramenta para acessar a produção cultural. Vários artistas têm usado as redes sociais para fazer pequenos concertos. Além disso, é possível acessar filmes, exposições, livros e museus usando essa ferramenta.
Estão disponíveis shows e performances de artistas para todos os gostos. Cantores e bandas brasileiras estão fazendo “lives” em seus perfis nas redes e várias editoras estão disponibilizando download gratuito de obras. Em todo o mundo, museus estão facilitando o acesso a algumas exposições virtuais. Já para quem gosta de cinema, há filmes acessíveis em vários canais da internet.
Vamos sair da rotina e ir ao encontro do encanto e da beleza, viver novas emoções.
Dizem que até do ponto de vista psicológico, a atividade artística melhora a auto-estima da pessoa, abaixa a angústia, o estresse e a ansiedade, que costumam ser presentes em situações de confinamento, e pode contribuir para que lidemos de forma mais saudável e equilibrada com as situações de crise.
Por outro ponto de vista, creio que o isolamento social pode ser um momento muito rico em produção cultural inédita. Sei de escritores que estão aproveitando o tempo para escrever novas obras, que estarão prontas para serem lançadas assim que este momento passar.
Certamente, quando o isolamento social passar, poderemos ter uma profusão de obras culturais que devem enriquecer o cotidiano de todos. É o que se chama tirar o “s” da crise e aproveitar para criar, produzindo um ativo positivo num momento muito difícil como esse que estamos passando.
Mas é preciso alertar os gestores culturais para o apoio a essa produção, dando oportunidades para que todos possam ver seus trabalhos contemplados. Mais que isso, o Poder Público deve dar todo apoio financeiro aos artistas. A grande maioria são “trabalhadores informais”, ou seja, não contam com renda fixa e, neste período de crise, a situação fica pior ainda.
Uma das medidas do governo do Estado está na recente liberação do prêmio literário Estevão de Mendonça, que vai destinar R$ 600 mil aos vencedores. Também considero importante levar adiante o programa estadual que descentraliza os recursos públicos da cultura para as prefeituras. E uma boa notícia: um edital “Festival Cultura em Casa” prevê a contratação de 170aões e projetos de profissionais em Mato Grosso para promover a exibição de obras pela internet.
E o mesmo pode se dizer do governo federal, que empossou com pompas e cerimônia a atriz Regina Duarte que, até o momento, não disse a que veio. Vi um vídeo, que circula na internet, em que artistas de todo o Brasil perguntam “onde está Regina”.
Recursos existem – tanto em nível estadual, quanto em nível federal – e este é um momento muito profícuo para a sua aplicação justa.
Mato Grosso, especialmente, é um estado que produz uma cultura única, decorrente de sua riqueza histórica e de suas tradições variadas. Mais do que nunca, vamos precisar aliviar a alma; e nada mais adequado do que contar com a arte e cultura para isso.
Conhecer a arte que é praticada pela nossa sociedade, ou pelo grupo cultural a que pertencemos é fundamental para construirmos a nossa própria identidade.
Como dizia o poeta Ferreira Gullar, “a arte existe porque a vida não basta”.
*Wellington Fagundes – Senador da República