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Causas irrefutáveis das queimadas no Pantanal

Euclides Ribeiro S. Junior**

Celebramos o Dia Mundial da Árvore envoltos por um sentimento de profundo pesar em relação ao Pantanal.

Nos primeiros sete meses deste ano, o principal rio da região atingiu o menor nível em quase cinco décadas; a chuva escassa já representa uma das maiores secas da nossa história recente; o desmatamento cresceu; e os incêndios devastaram mais de 2 milhões de hectares, tamanho equivalente a dez vezes as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro juntas. É o pior período de queimadas que temos registro desde o fim dos anos 1990, somado a uma das piores secas dos últimos 47 anos.

Um trágico balanço que talvez nunca chegue a ser de fato fechado. Até porque, se é possível mensurar prejuízos econômicos e financeiros decorrentes da destruição de pastagens, lavouras de subsistência e de bens, como cercas e currais, a dizimação da fauna calcinada pelas labaredas representa um dano incalculável para a natureza.

O drama da maior série de queimadas no Pantanal pode ser visto bem longe das matas e várzeas da região. No centro de Cuiabá, as máscaras de proteção à Covid-19 não evitam o cheiro forte da nuvem cinzenta sobre a cidade. A fumaça dos incêndios no bioma e na Amazônia já começou, inclusive, a chegar aos estados do Sudeste e do Sul.

A grande questão é que o Pantanal nunca é colocado em listas de prioridades para a conservação da natureza, tanto no nosso país como no mundo. E isso traz consequências drásticas. Esse ecossistema é um dos menos pesquisados no Brasil —Amazônia e mata atlântica chegam a ter mais de mil vezes o número de referências em artigos. Não existe nenhuma lei que rege especificamente o Pantanal (como, por exemplo, a Lei da Mata Atlântica) e nem um fundo para a conservação da região (como o Fundo Amazônia). O Pantanal é um bioma ignorado. E o fogo nos colocou sob um holofote de manchetes trágicas que desnudaram essa dinâmica de abandono político e pouco interesse intelectual.

Porém, não há dúvida de que o inventário da tragédia que transforma em cinzas boa parte do rico e frágil bioma pantaneiro impõe sobre a nossa geração um irrefutável ônus. Ainda que não como culpados diretos pelo desastre ambiental, mas como fiéis depositários de um dos mais ricos e delicados patrimônios naturais da Terra.

É com a perspectiva dessa responsabilidade ética geracional que devemos encarar a tragédia atual como situação-limite, uma dramática e contundente advertência de que devemos fazer mais, e já, para evitar a recorrência de desastres como este. Se o bioma Pantanal, como observamos, não se deixa repartir por uma linha divisória imaginária, temos de pensar soluções comuns para problemas e desafios igualmente comuns para toda a bacia.

​E nenhum desses desafios é mais urgente do que a prevenção contínua de incêndios devastadores como o que vivemos hoje.

 

Euclides Ribeiro S. Junior

Membro da Comissão de Recuperação Judicial da OAB-MT e sócio da ERS Advocacia