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A crise EUA/Irã e o agronegócio brasileiro

Colheita de trigo, colheita de grãos

A eclosão da crise entre Estados Unidos e Irã é um capítulo que merece toda nossa preocupação e advertência ao Governo brasileiro.  Até porque, como todos sabem, os produtores rurais de Mato Grosso podem acabar sendo duramente prejudicados, dependendo do viés que a diplomacia brasileira, através do Ministério das Relações Exteriores, possa dar a esse conflito – que, de antemão, se mostra totalmente desnecessário.

Pois bem! Nossa balança comercial fechou 2019 com superávit de US$ 46 bilhões. As exportações agropecuárias, a rigor, foram o fator principal desse desempenho positivo.  De acordo com dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, no acumulado de janeiro a novembro, as vendas do complexo soja, carnes, produtos florestais, cereais, açúcar, álcool e demais commodities do campo totalizaram US$ 89,33 bilhões, ou 43,4% de toda a receita exportadora naquele período.

Nesse balanço de êxito, Mato Grosso consolidou a posição de principal estado agroexportador, na frente de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. China, União Europeia, Estados Unidos e Japão continuam sendo os principais importadores do agro brasileiro, mas o Oriente Médio assume importância crescente como destino dessas exportações.

Somos o maior fornecedor de alimentos para a região, com vendas anuais de US$ 9 bilhões, que já compra quase o dobro do que vendemos aos Estados Unidos. No Oriente Médio, o nosso maior parceiro é o Irã, quinto maior importador dos alimentos que produzimos: 97% dos US$ 2,1 bilhões que os iranianos nos compraram até novembro foram produtos agropecuários.

Com a febre suína que reduziu à metade o rebanho chinês, o Irã tornou-se o maior mercado para o nosso milho, sendo, também, o quinto maior mercado para a carne bovina e a soja do Brasil. Daí as preocupações despertadas em amplos segmentos da opinião pública pela nota do Itamaraty aplaudindo o ataque aéreo americano que matou, no Iraque, o general comandante das forças de elite da Guarda Revolucionária do Irã.

Em contraste, diante desse mesmo episódio, potências europeias com muito mais peso geopolítico no Oriente Médio do que nós, se manifestaram de forma cautelosa, evitando alinhamento com qualquer lado. Afinal, o acirramento dos conflitos no Golfo Pérsico pode abalar a economia mundial com uma disparada do preço do petróleo.

Importante ressaltar que a melhor tradição diplomática brasileira harmoniza o princípio do respeito à soberania e a não intervenção nos problemas de terceiros países com o interesse nacional na ampliação dos mercados para as nossas exportações mundo afora. É esse o caminho que o País deve continuar trilhando para que o agronegócio siga sempre adiante, em benefício de todo o Brasil.

A estabilidade das relações comerciais do Brasil com o restante do mundo, em verdade, É fundamental para o agronegócio brasileiro. Os valores que nossos produtores investem – não apenas no plantio e colheita, mas também na pesquisa – são elevadíssimos e, nesse cenário, não há espaços para incertezas.

De nossa parte, tudo faremos para garantir que os rumos dos negócios internacionais do Brasil sejam mantidos, com gestão junto ao Governo para que se distancie de questões que possam trazer danos irreparáveis à nossa economia. Até porque defender o produtor significa, acima de tudo, assegurar ganhos para a sociedade, pois a agricultura é um dos setores que, sobretudo em nosso Estado, cumpre uma função social importante ao gerar emprego e, consequentemente, renda e oportunidade para todos.

Wellington Fagundes é senador por Mato Grosso e líder do Bloco Parlamentar Vanguarda

Foto: Agência Brasil